terça-feira, 3 de março de 2009

A composição de uma quimera

A composição de uma quimera



A uma sombra que coroe a alma

Que dilacera o espírito,

Crava estacas no peito,

Se desfaça de cordeiro, se finge de morto.

Implora para viver, e consome até o osso.


Perambula sem rumo, sem motivo.

Permeia os mistérios do coração,

Confunde o espírito, freme o corpo.

Faz-te tropeçar, te faz cair e de ti sorri.

Engana-te, prejudica-te, e se esconde em ti.


Sonda teus mistérios, brinca contigo.

Corroí a vontade, desgasta a alegria.

Vive em função da destruição,

Como um parasita a sugar a tua vida...


A um lobo que a tudo destrói

Que tudo consome, que tudo mata,

Que arranca do peito a estaca do primeiro

Para que morra mais rápido.


Que se move no frio na noite

Que sussurra os múltiplos sussurros do U.

Vaga na escuridão, esconde-se da luz.

E chora por ter de ser assim...


A um poeta que teme amar,

Que a sua existência lhe causa dor,

De um sonho que não pode sonhar.

Onde o tudo não passa de pouco

E o acaso uma irrealidade pérfida.


Uns três versos onde se perde a rima

Onde se perde no tempo, no pensamento.

Que no nada se esconde, como um soneto;

Esperando que alguém possa lê-lo

Esperando que alguém possa entendê-lo...


Esperando por o pensamento certo

Pela pessoa certa, pelo véu certo...

Comparar com o nada e com ninguém

Aquilo que tem como tudo.


Ser a questão do que não sou,

E querer ser aquilo que não posso.

Matar a vida ou viver a morte;

Como uma quimera de três corações

O primeiro de uma sombra,

O segundo de um lobo,

O terceiro de um poeta...


(Gabriel de Alencar)

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