A composição de uma quimera
A uma sombra que coroe a alma
Que dilacera o espírito,
Crava estacas no peito,
Se desfaça de cordeiro, se finge de morto.
Implora para viver, e consome até o osso.
Perambula sem rumo, sem motivo.
Permeia os mistérios do coração,
Confunde o espírito, freme o corpo.
Faz-te tropeçar, te faz cair e de ti sorri.
Engana-te, prejudica-te, e se esconde em ti.
Sonda teus mistérios, brinca contigo.
Corroí a vontade, desgasta a alegria.
Vive em função da destruição,
Como um parasita a sugar a tua vida...
A um lobo que a tudo destrói
Que tudo consome, que tudo mata,
Que arranca do peito a estaca do primeiro
Para que morra mais rápido.
Que se move no frio na noite
Que sussurra os múltiplos sussurros do U.
Vaga na escuridão, esconde-se da luz.
E chora por ter de ser assim...
A um poeta que teme amar,
Que a sua existência lhe causa dor,
De um sonho que não pode sonhar.
Onde o tudo não passa de pouco
E o acaso uma irrealidade pérfida.
Uns três versos onde se perde a rima
Onde se perde no tempo, no pensamento.
Que no nada se esconde, como um soneto;
Esperando que alguém possa lê-lo
Esperando que alguém possa entendê-lo...
Esperando por o pensamento certo
Pela pessoa certa, pelo véu certo...
Comparar com o nada e com ninguém
Aquilo que tem como tudo.
Ser a questão do que não sou,
E querer ser aquilo que não posso.
Matar a vida ou viver a morte;
Como uma quimera de três corações
O primeiro de uma sombra,
O segundo de um lobo,
O terceiro de um poeta...
(Gabriel de Alencar)
Nenhum comentário:
Postar um comentário