Anjo de poeta
No ranger de dentes
A poesia frenética do moribundo
Como se derrama de um negro vaso
O necta das flores recendentes
E nessa infâmia de poeta
Que no peito amante a magoa inda
Corrompe, e na vida destrói os sentimentos.
Espreita-me na ausência do teu encanto...
Tão belo puro anjo!
Nem as flores da alvorada revelam
Quão pura beleza há em teu coração,
Nem o brilho do sol ha. De ofuscar-te a palidez.
E nem desviara ele de ti meu olhar imóvel.
Quanto ao desalento do peito imundo
Tu encantas o coração dos poetas
E na maledicência desse, a velar-te.
Um murmúrio no desdém entre teus lábios.
No ressonar desse murmúrio teu
Ouço os segredos ásperos da franqueza
Dessas fitas róseas e invejáveis;
Quando na tua sinceridade te encontro
E para ti meu peito e meu amor
Espero apenas que me responda
Porque rejeita meu amor?
Porque rejeitar esses versos?
Se eles contemplam a ti
Não vedes que pedem por mim teu alento?
Não vedes que meu coração te espera
E nele todo meu amor e vivência?
Velo-te mesmo que apenas a morte me aceite.
E se um dia no leito da maldita amiga
For me tirada a esperança por ti,
Clamo a Deus que não te faças sofrer
E na glória da vida dos amores,
Peço-te ao menos um beijo
E nos teus lábios poder morre.
Gabriel de Alencar
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