quinta-feira, 17 de julho de 2008

Anjo de poeta




Anjo de poeta

No ranger de dentes

A poesia frenética do moribundo

Como se derrama de um negro vaso

O necta das flores recendentes


E nessa infâmia de poeta

Que no peito amante a magoa inda

Corrompe, e na vida destrói os sentimentos.

Espreita-me na ausência do teu encanto...


Tão belo puro anjo!

Nem as flores da alvorada revelam

Quão pura beleza há em teu coração,

Nem o brilho do sol ha. De ofuscar-te a palidez.

E nem desviara ele de ti meu olhar imóvel.


Quanto ao desalento do peito imundo

Tu encantas o coração dos poetas

E na maledicência desse, a velar-te.

Um murmúrio no desdém entre teus lábios.


No ressonar desse murmúrio teu

Ouço os segredos ásperos da franqueza

Dessas fitas róseas e invejáveis;


Quando na tua sinceridade te encontro

E para ti meu peito e meu amor

Espero apenas que me responda

Porque rejeita meu amor?


Porque rejeitar esses versos?

Se eles contemplam a ti

Não vedes que pedem por mim teu alento?

Não vedes que meu coração te espera

E nele todo meu amor e vivência?


Velo-te mesmo que apenas a morte me aceite.

E se um dia no leito da maldita amiga

For me tirada a esperança por ti,

Clamo a Deus que não te faças sofrer

E na glória da vida dos amores,

Peço-te ao menos um beijo

E nos teus lábios poder morre.

Gabriel de Alencar



Nenhum comentário: