...Os celtas têm um simbolismo fabuloso. Até as batalhas tinham um significado espiritual muito grande. Todo guerreiro celta honrava o código. Não matavam homens desarmados, nem mulheres e crianças. As batalhas que aconteciam em locais pantanosos ou lamacentos tinham um significado espiritual muito grande. Para eles, o pântano ou a lama é o limiar entre dois mundos. A água dessa lama ou pântano também significava pureza e renascimento. Ali eram travadas as batalhas. Atravessar o gué (pântano, lama) era o princípio da evolução. Haviam aqueles que afundavam completamente porque seus atos eram tão sujos como lama, e haviam aqueles que ultrapassavam com a benção dos deuses e seguiam seu caminho rumo a evolução espiritual.
...A busca do guerreiro permeia uma série de narrativas celtas. Essa procura, esta busca é, na verdade, uma busca iniciática onde no final encontra-se a verdade dos deuses e a essência do próprio guerreiro.
...O grande desafio de todo guerreiro é essa busca, mesmo que ela não tenha fim. A missão era sempre ir além, ultrapassando seus próprios limites e muitas eram as provações na sua caminhada.
...Agora pensem, quantos de nós assumiu esse lado de guerreiro, procurando a superação, buscando a verdadeira essência? Quantos de nós desistem nas primeiras provações que enfrentam?
...Essa questão da busca, da caminhada também aparece em muitas culturas. Os índio/s guaranis, por exemplo, acreditavam que toda a caminhada trazia a evolução do indivíduo e empreendiam longas caminhadas pelo território, desde o Baixo Amazonas até as terras do sul em busca de sua verdadeira essência. Por isso hoje vemos essa cultura maravilhosa morrendo aos poucos, porque confinados em reservas, não mais existem as longas caminhadas empreendidas em busca de si mesmo e de seu caminho espiritual. E quem não encontra-se a si próprio perde a identidade, perde a essência única que somos cada um de nós.
...Outra busca importante para os celtas era a busca do ser amado. Encontrar o ser amado é unir dois fragmentos dispersos no cosmos com a finalidade de criar a união divina e fundamental. Para os celtas eram impostas duras provas na busca da mulher amada. Aquele que vencia essas provas era digno do amor dessa mulher. E isso então, torna essa busca uma iniciação também.
...Para o celta, o amor é o seu destino, destino do qual ele não pode fugir, é uma aventura espiritual em busca da transcendência que pode ocorrer nesse plano. Mas mesmo não podendo fugir ao seu destino, não deve-se aceitar nada passivamente. Tem que questionar também, tem que ir em busca, e não ficar esperando passivamente.
...Na mitologia celta, essas viagens eram chamadas de Imramma, quando os guerreiros e heróis lançavam-se em barcas em direção ao Outro Mundo em busca da amada, ou mesmo doentes, seguiam sem destino (porque as próprias barcas sabiam onde levá-los), esperando que as deusas os levassem a uma ilha encantada para serem amados e curados por elas... Será isso tudo uma idealização? Acho que não... quantos de nós tem isso na sua própria história de vida? Quantos de nós tem medo de assumir e se deixar levar pelo próprio destino, destino esse que nos leva de encontro ao que é nosso de fato, seja onde ele estiver. Não falo aceitar passivamente, mas descobrirmos no decorrer da caminhada o que podemos fazer para que nosso destino se cumpra nessa vida, ou nas próximas vidas. Para que sejamos mais felizes e menos preocupados... Às vezes esquecemos isso. Esquecemos a força que está dentro de nós e quantas provações de vida e de fé nos são impostas pelos deuses e por nós mesmos... E é nesse momento que vemos como a mitologia faz parte de cada um de nós e como amplia a nossa capacidade de entendimento dos fatos que nos rodeiam.