Pálida
Inunda-me essas lágrimas a fronte
Quando no peito já não existe mais vida,
Como nos campos que não possuem flores,
Como a flor com espinhos causa uma ferida.
Desbotou-me esse olhar... E os lábios frios
Ousam de maldizer do meu destino,
Ousam de enche meu ser por ti de amores
E como o leproso das cidades antigas,
Sofro e canto esse fúnebre hino.
Entristeço-me nesse seio pálido,
E nesses lábios nunca antes profanados
Roubo-lhe um beijo em minha insânia,
Pois já agüentava mais minh’alma apaixonada
A velar-te nesse sonho.
Como um infame velei-te nesse sono
Tão deslumbrante meu anjo nesses campos
Pálida no encosto da tumba fria
Descansa o lindo rosto num belo luar
Enquanto tira da minha vida a alegria.
Tudo o que ouvia apenas o eco ao longe
E o som da minha própria voz a responder:
No luar apenas os campos vastos de flores mortas,
E no teu rosto a palidez dos meus sonhos.
Antes que à aurora se revelasse
Desci eu a tumba fria,
Ajoelhei ao seu leito puro e sussurrei minha ultima oração;
Encostando a fronte ao leito do anjo
Adormeci eu do sono seu,
Num último pedido a lâmpada dos amores:
‘’Prateia a cripita da minha amada. ’’
Gabriel de Alencar
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