terça-feira, 17 de junho de 2008

Pálida



Pálida

Inunda-me essas lágrimas a fronte

Quando no peito já não existe mais vida,

Como nos campos que não possuem flores,

Como a flor com espinhos causa uma ferida.


Desbotou-me esse olhar... E os lábios frios

Ousam de maldizer do meu destino,

Ousam de enche meu ser por ti de amores

E como o leproso das cidades antigas,

Sofro e canto esse fúnebre hino.


Entristeço-me nesse seio pálido,

E nesses lábios nunca antes profanados

Roubo-lhe um beijo em minha insânia,

Pois já agüentava mais minh’alma apaixonada

A velar-te nesse sonho.


Como um infame velei-te nesse sono

Tão deslumbrante meu anjo nesses campos

Pálida no encosto da tumba fria

Descansa o lindo rosto num belo luar

Enquanto tira da minha vida a alegria.


Tudo o que ouvia apenas o eco ao longe

E o som da minha própria voz a responder:

No luar apenas os campos vastos de flores mortas,

E no teu rosto a palidez dos meus sonhos.


Antes que à aurora se revelasse

Desci eu a tumba fria,

Ajoelhei ao seu leito puro e sussurrei minha ultima oração;

Encostando a fronte ao leito do anjo

Adormeci eu do sono seu,

Num último pedido a lâmpada dos amores:

‘’Prateia a cripita da minha amada. ’’


Gabriel de Alencar

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