Fim
Esse ardor que exala do peito
Que a vida inspira e morte acolhe
Mas parece a dádiva única da vida,
Pois não há ser vivo que não morra
E nem mágoa que possa ser esquecida.
A criança pode caminhar com a face obscura
Mas é essa expressão negra que compreende o coração,
É esse escuro e a negra insânia que ensina;
Melhor é o dia da morte que o da vida.
É essa a vida... Que como o vento é,
Pode ela dar voltas e mais voltas:
De nada adianta; termina no mesmo lugar.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Numa estrada sem rumo e compaixão
Onde os abutres espreitam-me a carne,
De um infame morto por uma lepra cura.
E nas noites que o crepúsculo ilumina
No rosto a palidez nas faces,
Só cria no sepulcro sossegado.
E no mundo dos mortos
Onde o senhor Deus não podes ser lembrado,
Irei esperar calado e mudo
Nos braços frios, nas entranhas da terra.
A vida deixar o mundo...
(Gabriel de Alencar)
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