quinta-feira, 20 de março de 2008

Fim


Fim

Esse ardor que exala do peito

Que a vida inspira e morte acolhe

Mas parece a dádiva única da vida,

Pois não há ser vivo que não morra

E nem mágoa que possa ser esquecida.


A criança pode caminhar com a face obscura

Mas é essa expressão negra que compreende o coração,

É esse escuro e a negra insânia que ensina;

Melhor é o dia da morte que o da vida.


É essa a vida... Que como o vento é,

Pode ela dar voltas e mais voltas:

De nada adianta; termina no mesmo lugar.


Eu deixo a vida como deixa o tédio

Numa estrada sem rumo e compaixão

Onde os abutres espreitam-me a carne,

De um infame morto por uma lepra cura.


E nas noites que o crepúsculo ilumina

No rosto a palidez nas faces,

Só cria no sepulcro sossegado.


E no mundo dos mortos

Onde o senhor Deus não podes ser lembrado,

Irei esperar calado e mudo

Nos braços frios, nas entranhas da terra.

A vida deixar o mundo...

(Gabriel de Alencar)


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